ל (lamed) - Estabilidade para vidas incertas e instáveis. Salmo 119:89-96



Percebi que até mesmo a perfeição tem limite,

mas não há limite para teu mandamento 

Salmos 119:96


O valor que damos à estabilidade pode ser deduzido dos nossos esforços para alcançá-la. Muito da vida se resume a ações em busca da correção da instabilidade flagrantemente sentida: instabilidade financeira, emocional - um contrato de trabalho, um casamento, um rotina diária.


A estabilidade nos parece oferecer um combo útil pra vida: segurança + previsibilidade. Segurança pra viver o hoje. Previsibilidade pra viver o amanhã. Gostamos de ter o controle: da vida, das coisas, do tempo.


Mas, friamente analisando, que tipo de estabilidade real posso ter do meu canto do universo - apesar dos muitos esforços e tentativas? Não passamos de pequenos grãos de areia sobre uma bola de massa gigante girando ao redor de si mesma e viajando a mais de 100 km/h num universo tão grande que nunca ninguém conseguiu medir. Vivendo uma realidade tão cheia de variáveis biológicas, físicas e sociais que nos pegam de surpresa, mudam nossos planos e nos provam o quanto há além do nosso controle - muito mais do que o que julgamos já ter sob controle.


Dependemos do mínimo de estabilidade - segurança e previsibilidade - para viver. Ao mesmo tempo em que a estabilidade, do nosso ponto da realidade, é uma grande ilusão.


Qual o nosso ponto fixo numa realidade em constante movimento? Qual o nosso fundamento se o chão sob nosso pés flutua sobre o nada? Qual nosso norte, se constantemente giro em torno de mim mesma e nem mesmo percebo quando estou de cabeça pra baixo?


O único ponto fixo possível precisaria estar além e acima do universo em constante movimento. Além e acima do passar do tempo sob o qual não há controle. Somente lá estaria a estabilidade que nos estabilizaria numa realidade instável. É lá onde estaria a segurança que nos segura numa realidade insegura. Somente de lá conseguiríamos prever o futuro numa realidade que a nós é completamente imprevisível. 


O salmista, humano e instável como nós, celebra esse lá. Nosso ponto fixo, nosso fundamento inabalável, nossa constante acima do tempo, nossa estabilidade real. Nosso Deus.


Ele, cuja palavra está além do tempo, pq é eterna.

Ele, cuja palavra está firme num céu em constante movimento.

Ele, cuja fidelidade se estende para além de gerações passageiras.

Ele, cuja fidelidade é mais duradoura que a terra feita para durar.

Ele, cujos conselhos permanecem por milênios de ‘hojes’.

Ele, que tudo criou a serviço dos seus planos: o espaço, o tempo, o movimento, a instabilidade - eu e você.

Ele, perfeitamente ilimitado, que nos criou perfeitos, mas perfeitamente limitados a esse mesmo espaço, tempo e movimento.


E é nesse lá que nós, limitados, para quem qualquer predição é incerta e ilusória, podemos reconhecer e admitir as incertezas da nossa realidade perfeitamente limitada e viver a nossa flagrante instabilidade de maneira segura e estável - porque sou dele, ele me dá vida e sua estabilidade é meu prazer.


Um abraço carinhoso,

Renata Veras.


P.s.: estava com saudade de fazer isso!

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2 comentários

  1. Obrigada pela postagem, Renata! Que reflexão preciosa. Escreva sempre que puder!

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