'ESPOSAS' DA REFORMA - Mulheres na Reforma


Ao lado dos reformadores estavam mulheres notáveis que deixaram sua marca na história do cristianismo.

Por muitos anos o acesso às verdades sagradas ou a autorização para perscrutá-las permaneceu negado para o homem comum (leigo). A visão medieval de domínio do clero impôs a ideia de que somente uns poucos eram autorizados, capazes e responsáveis por pensar sobre as Escrituras e aplicar tais Escrituras à vida cotidiana.

Se essa era a realidade para o homem comum (leigo), era especialmente forte com relação às mulheres.

Uma breve passagem pelas obras de alguns dos mais destacados pais da igreja é suficiente para percebermos que, infelizmente, muitas vezes as mulheres foram deixadas de fora da responsabilidade de pensar sobre a sua fé*.

As mulheres eram vistas muitas vezes como incapazes para as atividades intelectuais, facilmente enganadas, vulneráveis com relações às questões da fé e, por isso mesmo, deveriam ficar longe das atividades e reflexões teológicas**.

O fato é que com a reforma muitas foram as mudanças teológicas e eclesiásticas que ocorreram. E para mulher isso foi particularmente verdadeiro.

Uma das grandes contribuições da Reforma Protestante foi acabar com a visão medieval clerical e enfatizar a verdade de que todos os crentes têm acesso direto à Deus, sem a necessidade de mediadores. Todos os crentes têm acesso às verdades das Escrituras e a responsabilidade de conhecê-la.

Não somente isso, mas os reformadores restauraram a dignidade do casamento devolvendo, assim, às mulheres, seu lugar na sociedade, retirando-as dos conventos (único lugar para onde as mulheres que queriam se dedicar à reflexão teológica a à vida ministerial podiam ir) e integrando-as de volta à sociedade e à comunidade dos crentes.

Apesar das dificuldades e limitações (nem tudo eram flores), as mulheres tiveram mais espaço e floresceram com o surgimento do protestantismo e deixaram marcas indeléveis na vida da igreja. Se destacam nesse contexto, por exemplo, as chamadas ‘esposas da reforma’, que viam a si mesmas como parte do ministério de seus maridos.

Katherine von Bora

Sem dúvidas, a mais conhecida dessas é Katherine von Bora (1499 – 1555), a quem seu esposo, Lutero, se referiu como

“graciosa Katherine von Bora [...] pregadora, cervejeira, jardineira e todas as outras coisas mais”

Além do reconhecimento por ser uma administradora do lar exemplar, é dito que ela, junto com seu marido, conversava com refugiados e estudantes que os procuravam em busca de conselhos.

Katherine Zell

Outra Katarina se destaca no sentido de ser uma inspiração pela forma como amava as Escrituras e refletia sobre ela. Katherine Zell, também esposa de um reformador, demonstra o seu ávido interesse pelas questões espirituais, mesmo antes de Lutero divulgar as suas famosas teses. Em suas próprias palavras, diz que:

“Desde que eu tinha 10 anos eu tenho sido uma estudante e uma espécie de mãe da igreja, muito dada a assistir aos sermões. E tenho amado e frequentado a companhia de homens instruídos e conversado muito com eles, não sobre dança, máscaras e prazeres mundanos, mas sobre o Reino de Deus.”

É dito que ela “conversava com eles sobre teologia tão inteligentemente que eles a colocavam acima de muitos doutores”. Ao mesmo tempo, contra rumores de que pretendia se tornar ‘Doutora Katrina’, deixava claro que entendia o ensino das Escrituras e que não pretendia desafiar ou usurpar os ofícios estabelecidos por Deus para os homens:

“Eu não estou usurpando o ofício de pregador ou apóstolo [...] Eu sou como a querida Maria Madalena, que sem intenções de ser apóstolo, foi contar aos discípulos que ela havia encontrado o Senhor ressurreto”

Katherine Zell, além de amante das Escrituras, era também uma adoradora do Deus vivo. Ela escreveu muitos hinos dos quais se diziam que quem os havia escrito parecia ter a Bíblia inteira em seu coração.

Muitas outras mulheres entraram para a história da reforma pela forma como amavam a causa de Cristo. Dentre elas Argula von Grumback, Ursula of Munsterberg, Marguerite of Navarre e sua filha Jeanne d’Albert, Reneé of Ferrara e tantas mais.

Essas mulheres marcaram seu tempo, entraram para a história e nos abençoam hoje através do testemunho das suas vidas piedosas. Mulheres que amavam a Deus e a sua Palavra e que brilharam ao entenderem o seu chamado para amar e servir a Deus como mulheres.

O desafio que arde em nosso coração é o de ser tudo aquilo que Deus espera de nós em nossa geração. Que o Senhor nos use para abençoar o nosso lar, participar da edificação da igreja e transformar a nossa sociedade através do zelo que temos pela Palavra e da devoção que temos Cristo.

Abraço carinhoso,
Renata Veras

Notas:
*Apesar disso, é interessante notar como mesmo nos períodos mais escuros da história, encontramos exemplos de mulheres notáveis que deixaram sua marca na história por seu amor à Palavra e pelo zelo que tinham por ela – prometo que guardo essa para uma próxima oportunidade.

**Aqui é preciso uma nota de cautela. Apesar de admitir muito mal entendido e equívoco com relação à participação e ao papel da mulher nas coisas do Reino, é preciso cuidado para não assumir uma postura por demais pessimista e parcial, citando frases de impacto de alguns pais da igreja, desconsiderando o contexto total em que aqueles homens viveram e em que aquelas palavras foram ditas. Uma palavra pode descrever bem a posição dos pais da igreja com relação às mulheres: ambiguidade. Não é simples entender como muitos deles viam as mulheres e até que ponto reconheciam seu papel no Reino.

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