Pobre Sr. Smythers – O que fizeram do sexo!



Pobre Sr. Smythers – O que fizeram do sexo!

Por muitos séculos as mulheres foram reprimidas sexualmente. É unânime entre os não religiosos culpar a religião de ser responsável por grande parte da visão fechada, extremamente conservadora e até doentia sobre o sexo. Concordo que a religião tenha uma grande parcela de culpa nisso, mas é importante traçar a diferença fundamental entre religião e Bíblia. Embora as religiões cristãs utilizem a Bíblia como base e fundamento para seu discurso e suas práticas, muitas delas manipulam o texto sagrado a fim de doutrinar suas próprias convicções e preferências nos diversos assuntos da vida cotidiana. Sem dúvida, o sexo é um deles.

Nada mais mal entendido e mais mal utilizado que o sexo. A história do sexo pode ser entendida como uma série de extremos, de altos e baixos, de picos e vales que igualmente se distanciam do seu significado original.

Sexo Criado
Deus criou o sexo bom e perfeito. Adão e Eva se davam muito bem nessa área – os dois estavam nus e não se envergonhavam. Em toda a história, esse foi o único momento em que o sexo foi encarado e desfrutado em toda sua plenitude de prazer, beleza, propósito e dignidade. Sexo foi criado por Deus, para um homem e uma mulher, dentro do casamento, visando prazer e intimidade para a glória do Senhor.

“Então o Senhor Deus fez o homem cair em profundo sono e, enquanto este dormia, tirou-lhe uma das costelas, fechando o lugar com carne. Com a costela que havia tirado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher e a trouxe a ele. Disse então o homem: "Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada". Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne. O homem e sua mulher viviam nus, e não sentiam vergonha.” Gênesis 2:21-25

Sexo Corrompido
Depois do pecado, a história mudou e o sexo deu um mergulho em queda livre. Tornou-se um fim em si mesmo, objeto livre e barato de prazer descomprometido e anárquico, afastando-se extremamente daquele plano e propósito estabelecido por Deus – pense no mundo que causou repulsa aos olhos de Deus e motivou o dilúvio, pense em Sodoma e Gomorra, pense nas orgias da civilização romana. Transformaram o sexo em algo grotesco, baixo, podre, sujo.

“Da mesma forma, os homens também abandonaram as relações naturais com as mulheres e se inflamaram de paixão uns pelos outros. Começaram a cometer atos indecentes, homens com homens, e receberam em si mesmos o castigo merecido pela sua perversão. Além do mais, visto que desprezaram o conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem o que não deviam.” Romanos 1:27,28

Sexo Reprimido
Diante das cenas horrorosas de devassidão sexual, como forma de resolver a questão e utilizando Deus e a Bíblia como desculpa, a religião resolveu condenar o sexo, declarando-o sujo, pecaminoso, algo que devia ser evitado (embora aos homens fosse permitido que continuassem praticando).

Em Instruções e conselhos para a jovem noiva sobre a conduta e o procedimento dos relacionamentos íntimos e pessoais do estado de casamento para a maior santidade espiritual deste Santíssimo Sacramento e a glória de Deus, escrita por Ruth Smythers esposa do reverendo L. D. Smythers, Pastor da Igreja Metodista Arcadiana, publicado em 1894, podemos ver quão distorcidos eram os conceitos e os conselhos oferecidos por esta mulher às jovens mulheres que estavam por se casar.

“Para a jovem sensível que tem os benefícios da educação apropriada, o dia do casamento é, ironicamente, tanto o mais feliz quanto o mais terrível dia da sua vida. No lado positivo, há o casamento em si, em que a noiva é a atração central em uma cerimônia bonita e inspiradora, simbolizando seu triunfo em garantir um homem para prover todas as suas necessidades para o resto de sua vida. No lado negativo está a noite de núpcias, durante a qual a noiva deve “pagar as despesas”, digamos assim, enfrentando pela primeira vez a terrível experiência do sexo.
Uma regra primordial do casamento nunca deve ser esquecida: OFEREÇA POUCO, OFEREÇA RARAMENTE, E ACIMA DE TUDO, OFEREÇA DE MÁ VONTADE. Caso contrário, o que poderia ser um casamento apropriado pode tornar-se uma orgia de luxúria. Por outro lado, o terror da noiva não precisa ser extremo. Embora o sexo seja, na melhor das hipóteses repulsivo, e na pior, doloroso, ele tem de ser suportado, e tem sido assim desde o início dos tempos, e é compensado por um lar monogâmico e pelos filhos gerados através dele.
Na maioria dos casos, é inútil para noiva persuadir o noivo a abster-se da iniciação sexual. Enquanto o marido ideal seria aquele que se aproximaria de sua noiva apenas a seu pedido e somente com a finalidade de gerar prole, tal nobreza e altruísmo não se pode esperar do homem comum.
A maioria dos homens, se não recebessem uma resposta negativa, pediriam sexo quase todos os dias. A noiva prudente permitirá, no máximo, duas rápidas relações sexuais por semana durante os primeiros meses de casamento. Com o passar do tempo, deve se esforçar para diminuir essa frequência. Desculpas como doenças, sono e dores de cabeça estão entre as melhores amigas das esposas quanto a esta questão. Argumentos, resmungos, repreensões e brigas também provaram ser muito eficazes se usados à noite, cerca de uma hora antes do momento em que o marido começaria a seduzi-la.
Esposas inteligentes estão alerta a novos e melhores métodos de negar e desencorajar propostas amorosas do marido. Esperava-se que uma boa esposa tivesse reduzido os contatos sexuais a uma vez por semana no fim do primeiro ano de casamento e a uma vez por mês depois de cinco anos. Quando chegavam aos dez anos de casamento, muitas esposas já haviam criado seus filhos e alcançado o objetivo final de eliminar todo contato sexual com o marido.”

Conseguiram chegar desta vez ao extremo oposto, mais uma vez condenando algo puro, santo e bom ao status de imoral, vergonhoso e penoso para as mulheres. O sexo foi reprimido!

Sexo Banalizado
Passamos novamente para o outro extremo - da mulher reprimida para a mulher agressiva e ávida por sexo. Mais uma vez, na intenção de resolver o problema do sexo – principalmente relacionado à mulher - trataram de ‘regatá-lo’ de sua condição reprimida criando um mal opostamente semelhante aos outros. Se há séculos atrás as mulheres eram escravas da visão equivocada de que o sexo é ruim (e eram ensinadas a fugir do sexo como o diabo foge da cruz), hoje as mulheres se jogam nele como se tivesse o livre direito de usá-lo como e quando bem entender – o sexo se tornou algo vazio, igualmente sem significado, que mais causa dor e marcas no coração das mulheres do que satisfação verdadeira. O sexo foi novamente banalizado.

As próprias palavras de Betty Friedan em seu livro Mística Feminina, importante obra de referência para o movimento feminista, mostram como a busca enlouquecida por sexo e a liberação sexual feminina terminou em frustração. Mesmo referindo-se a outros tempos, as palavras descrevem bem a realidade pósmoderna.

“Em lugar de concretizar a promessa de gozo infinito, o sexo na América da mística feminina está-se transformando numa estranha compulsão nacional, sem alegria, ou então numa farsa desprezível. Os romances empanturrados de sexo tornam-se cada vez mais explícitos e tediosos; o tom sexual das revistas femininas tem uma tristeza doentia; o caudal inesgotável de manuais descrevendo novas técnicas sugere falta de excitação. Esse tédio manifesta-se no tamanho cada vez maior do busto das starlets de Hollywood, no repentino aparecimento do órgão masculino como atrativo publicitário. Sexo tornou-se despersonalizado, visto em termos desses exagerados símbolos.” (p. 224)

Ainda sobre as revistas e literatura femininas, algo bem próprio dos nossos dias, Friedan chama atenção para o fato do sexo ter perdido completamente seu sentido. Embora a solução que ela ofereça seja outra qualquer, sabemos que somente quem projetou o sexo pode determinar e restituir o seu sentido e significado.

“O que registraram os pesquisadores de Kinsey foi que tanto os romances, revistas, peças e novelas constituíam os sintomas da crescente despersonalização, imaturidade, ausência de alegria e de sentido em nosso excesso de preocupação sexual.” (pp. 226,227)

De toda forma, mais uma vez acabaram por diminuir o sexo e arrancar-lhe sua beleza, sua dignidade e seu potencial de dar verdadeiro prazer. A tentativa humana sempre pende para os extremos e causa danos. A questão do sexo só é plenamente resolvida quando resolvida pelo autor do sexo, o próprio Deus.

Sexo Redimido
Nós, mulheres do século 21, não sofremos mais a repressão sexual dos tempos antigos e, como crente que somos, não abraçamos a onda de liberação sexual pregada pela pósmodernidade. A grande maioria de nós não vê mais o sexo como algo sujo e penoso e nem quer se jogar no sexo sem amor e sem compromisso. Entretanto, mesmo enxergando os erros dos extremos, ainda somos sutilmente influenciadas pelos reflexos desses equívocos no meio em que vivemos. Por um lado podemos ter vergonha e restrição de falar ou tratar dos nossos problemas sexuais ou buscar ajuda, como se falar sobre isso seja algo sujo e vergonhoso, indigno de preocupação. Por outro lado, podemos ser seduzidas pela curiosidade e exagerar ou nutrir comportamentos sexuais inadequados. A liberdade dos dias de hoje pode nos ser uma tentação para que caiamos na libertinagem.

A única forma de entender o sexo em toda sua beleza, dignidade e potencial de prazer e gozo é através do entendimento sadio do que a Bíblia ensina a respeito dele. Os antirreligiosos rirão e dirão que a Bíblia não trata de sexo e que as mulheres são oprimidas sexualmente através dela, mas o entendimento correto traz verdadeira alegria e libertação. A minha Bíblia, inclusive, dedica um livro inteiro às delicias e ao prazer proporcionado pelo sexo na vida de um homem e de uma mulher.

Pobre reverendo Smythers que não soube aproveitar. E pobre da senhora Smythers e de todas aquelas jovens noivas que seguiram seus conselhos. A liberdade e a beleza sexual ensinadas hoje pelas Escrituras são as mesmas de séculos atrás, não é nenhuma moda nova. Sexo foi criado por Deus, para um homem e uma mulher, dentro do casamento, visando prazer e intimidade para a glória do Senhor (sem esquecer dos filhos, é claro).

Eu não sei o que estão aconselhando às mulheres sobre sexo na igreja (se é que isso acontece), mas sei que anda sobrando muito pudor doentio de antigamente, o que abre espaço para a curiosidade e para a libertinagem doentia e exagerada de hoje.

A pobre Sra. Smythers, com sua teologia sobre o sexo fraca e equivocada, aconselha: SEXO - OFEREÇA POUCO, OFEREÇA RARAMENTE, E ACIMA DE TUDO, OFEREÇA DE MÁ VONTADE. Parafraseio a infeliz fala da senhora e posso aconselhar você: SEXO DENTRO DO CASAMENTO - OFEREÇA MUITO, OFEREÇA SEMPRE, E ACIMA DE TUDO, OFEREÇA COM PRAZER! Esse é o ensino bíblico. Desfrute!

“Quão deliciosas são as suas carícias, minha irmã, minha noiva! Suas carícias são mais agradáveis que o vinho, e a fragrância do seu perfume supera o de qualquer especiaria! Os seus lábios gotejam a doçura dos favos de mel, minha noiva; leite e mel estão debaixo da sua língua. A fragrância das suas vestes é como a fragrância do Líbano.” Cânticos 4:10,11

Abraço, Renata Veras

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