Sobre bolhas, ministérios femininos e redes sociais.


Algumas considerações amorosas que acredito serem pertinentes depois de tantos textos publicados hoje sobre mulheres, ministérios femininos, teologia e redes sociais, principalmente depois de alguns comentários e questionamentos que recebi.

1.Internet não é igreja. Infelizmente esse boom de interesse que aparece de forma tão evidente nas redes sociais ainda é bem distante da realidade das nossas igrejas. Com a devida licença poética, ousaria lamentar que:
- Nunca vi tantas páginas sobre modéstia nas redes sociais e nunca vi tantas mulheres vestidas de forma indecentes na igreja.
- Nunca vi tantas páginas tão cheias de seguidores nas redes sociais e tão poucas mulheres nas reuniões semanais da sua comunidade de fé.
- Nunca vi tantas mulheres compartilhando frases de teólogos famosos e tão poucas conhecendo sua Bíblia de cor.
- Nunca vi tantas mulheres que amam teologia e que desprezam as suas Bíblias.

2.Teologia é importante para a mulher, sempre bato nessa tecla (mesmo com a ressalva de que quando falo de teologia falo de Bíblia). Mas teologia deve ser prática, aplicada. Uma teologia acadêmica demais, teórica demais, sistemática demais, que se distancia das questões pertinentes (à mulher, nesse caso) é estéril. A teologia deve falar às nossas questões cotidianas. Mais ainda, teologia deve se traduzir em transformação de vida e se refletir em cada aspecto "insignificante" das nossas vidas.

3. Sobre a ênfase dos ministérios femininos em temas específicos, algo me chama a atenção. Talvez o que se está deixando passar despercebido é que pode haver um motivo especial para que livros, reuniões e congressos femininos falem tanto sobre maternidade, domesticidade, submissão e educação de filhos - e que este motivo está exatamente nas Escrituras, em Tito 2:4-5. Ao mesmo tempo em que a liderança espiritual é convocada a instruir muito bem as mulheres até ao ponto de que estas sejam capazes de ensinar o que é bom, as mulheres são chamadas a instruir umas às outras em questões práticas fundamentadas no que aprenderam e foram instruídas das Escrituras. O último não independente e nem substitui o primeiro, mas auxilia, complementa e tem seu valor.

4. Ambientes em que as mulheres possam falar de assuntos práticos são importantes, necessários e recomendados. Interessante que a orientação tão específica para o importante ministério feminino de Tito 2 aponta para a necessidade de ensinar umas às outras a serem boas donas de casa, amarem os maridos, cuidarem bem dos filhos (mesmo que pareça fora de moda ou não confira tanto status intelectual). Talvez esse seja o motivo pelo qual as mulheres tratam tanto dessas questões - como resposta ao chamado divino para esse valioso ministério de ensino.
Certamente estes não são os únicos 'assuntos femininos'. Nem todas as mulheres casarão, serão mães ou donas de casa - fato! O chamado feminino não se resume a isso - o mantado cultural e missiológico de cada mulher segue os rumos traçados por Deus. Não creio que Paulo seja exaustivo aqui, mas creio que aponta para questões fundamentais e necessárias ainda na sua época.

5.Nesses tempos, falar sobre feminilidade, maternidade, submissão e criação de filhos é pertinentíssimo! Ninguém em sã consciência discordaria disso. Falar contra iniciativas como essa, mesmo com ressalvas, sempre me soa estranho e me parece perigoso. Abordagens como essa sempre correm o risco de pender para extremos. Propor equilíbrio e fidelidade às Escrituras quando se trata das questões da mulher é uma questão mais de isso mais aquilo do que isso ou aquilo.

6.A mulher precisa ouvir sobre maternidade, submissão e criação de filhos. Ela precisa ouvir ainda sobre quem ela é e para que foi criada. Precisa ouvir sobre mandato cultural e mordomia. Sobre pecado e redenção. E tudo deve apontar para Cristo.
Um ministério feminino fundamentado nos princípios das Escrituras sobre feminilidade não desprezará nenhum desses aspectos, mesmo que coloque ênfase sobre os primeiros, uma vez que os demais naturalmente devem ser enfatizados pela liderança espiritual.
Um ministério feminino em sintonia com o Corpo de Cristo também não desprezará as fases e os chamados de cada mulher e as necessidades femininas específicas de cada uma.

7. Por último, reitero: internet, congressos, livros, vídeos, etc. não são Igreja. São ferramentas, muitas vezes específicas, segmentadas (ninguém foi chamado pra dar conta de tudo). Usar algum desses meios como única fonte de alimento espiritual é imaturidade.
Uma mulher saudavelmente integrada à igreja, corretamente pastoreada e alimentada na Palavra por bons pastores pode e deve desfrutar de materiais, ferramentas e meios reconhecidamente saudáveis que lhe acrescente conhecimento em questões específicas.

Abraço carinhoso,
Renata Veras.

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8 comentários

  1. Renata, só agora li esse post mas quero parabenizá-la por tao sábias palavras. Recebi o post que fala sobre "bolhas" e fiquei pensando onde o escritor "escondeu" Tito 2:3-5, que fala do ensino ás mulheres em áreas específicas. Que Deus nos ajude!

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    1. A Palavra de Deus não se resume a Tito 2:3-5. Essa é a questão, essa é a crítica. Mas vocês já colocaram marido, filhos e a casa no lugar de Deus e qualquer crítica construtiva é vista como um ataque aos ensinos. Fala sério. Que Deus nos ajude mesmo a não dividir a glória que é só dEle.

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    2. Querido(a) anônimo(a),

      Um rápido passeio pelo blog e verás que meu zelo pelas Escrituras não se resumem a Tito 2:3-5. Aliás, pouco falo sobre esse texto e creio que deveria falar mais.

      No próprio texto acima fiz questão de deixar claro que o ensino de Tito sobre o ministério feminino não é exaustivo - quem, com um pouco de conhecimento das Escrituras diria isso!

      Sem nenhuma sombra de dúvidas, Cristo é o centro de tudo que aqui é ensinado.

      Mas infelizmente falar sobre essas coisas graciosas concedidas e valorizadas por Deus que são a família e casamento nos dias de hoje, acabar por despertar reações de descontentamento de várias formas, não somente pelos de fora, que desprezam o projeto de Deus para a mulher e para a família, mas até mesmo por parte dos próprios cristãos. Não digo que foi seu caso.

      Como já tive oportunidade de dizer, esse texto não é um ataque aos textos publicados. Esse texto foi feito para ajudar a clarear algumas coisas que porventura tenham ficado duvidosas para algumas.

      Agora uma crítica construtiva: suas palavras não são verdadeiras e nem amorosas, mas de juízo temerário. Devemos cuidar bem das nossas palavras.

      Um abraço carinhoso,
      Renata Veras.

      (P.s.: perdoe a demora para publicar e responder seu comentário. Administrar os comentários não é fácil. Comentários que não exigem de mim nenhuma resposta me permito publicar mais rapidamente. Quando recebo comentários como o seu, que exigem de mim alguma resposta, faço questão de publicar tão somente quando tiver tempo e condições de devida e carinhosamente responder.

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  2. Eu não sei quais questionamentos ou até mesmo críticas que você recebeu ou possa ter lido. Tive acesso a um texto que achei muito raro do blog "dois dedos de teologia" a respeito da "bolha teológica feminina" e pra mim faz muito sentido a crítica e é muito bem fundamentada. Você frisou a questão da Internet não ser igreja mas pelo menos no texto que eu li a crítica a bolha não era direcionada a blogs, canais, podcast que tratam dos temas maternidade/casamento. A crítica principal foi- e deve/deveria ser - exatamente às igrejas! Muitas mulheres devidamente integradas à congregação "sofrem" por falta de "pertencimento", pois a programação das igrejas é, sim, totalmente voltada para estes temas, pendendo exatamente ao extremo que você mencionou. Nunca vi falar , como mulher criada na igreja, de um ambiente que pendesse para desvalorização do papel da mulher como mãe e esposa, pelo contrário. Falta muito sim a ser aprendido corretamente,não diminuo a importância da discussão, valorização e ensino de questões a respeito desses temas, mas a verdade é que como você pontuou nem todas as mulheres casarão, terão filhos e até mesmo: nem todas as mulheres permanecerão casadas a vida toda (e não falo de divórcio e sim viuvez).

    Apontar para teologia, creio, não é questão de ser algo de mais "status" em detrimento ao cuidado com a casa, marido e filhos, creio que é apontar sim para Aquele onde todas essas demais coisas subsistem.

    Mesmo aquilo que é ordenado pela Palavra e portanto agradável a Deus, podem vir a escondê-Lo da vista daquelas que estão ocupadas e atraídas - ou acabam sendo-por formas exteriores ao invés da verdade, do espírito, e da vida.
    Sem conhecer Deus verdadeiramente e profundamente através da Palavra pouco importa ensinarmos as mulheres a serem boas donas de casas e amantes de seus maridos, produziremos religiosas que idolatram a vida conjugal, até um modelo perfeito de piedade externa, mas sem poder.

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    1. Oi Nádia!
      Concordo com vc. O objetivo do texto não foi responder ou contrariar, mas complementar o que já tinha sido dito. O 'x' da questão nem é 'mais teologia' ou 'menos teologia', ou ainda 'mais estudo prático' ou 'menos estudo prático'. A questão é entender, como Agostinho dizia, que teologia é 'ciência' e 'sapiência', é conhecimento e relacionamento, vida diária, cotidiana. Qualquer uma das coisas sem a outra é deficiente. Enfim, concordamos. Simplesmente lançamos luz para os dois lados da questão.
      Abraço carinhoso,
      Renata Veras
      (Desculpe a demora, não tenho conseguido ver, gerenciar e responder aos comentários no blog)

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  3. Amei o texto... Me edificou bastante. Preciso repensar um pouco acerca das minhas atitudes, e amar mais em conhecer a palavra do Eterno e vivê-la..
    Obrigada Renata por compartilhar esse texto. Obrigada pelo seu coração e sua dedicação em nos instruir na palavra de Deus.

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  4. Excelente reflexão Renata! Você é de qual igreja?
    Abraço, Elizangela

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  5. Seus textos têm sido de grande valia para mim! Que Deus abençoe a sua vida e continue te inspirando para inspirar-nos...

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